O acampamento.
Comentários de Lord Baden-Powell.
Baseado no livro “Rastro do fundador”.
Nota
- Quando cheguei à arena, em Budapeste, no meio duma intensa chuvarada, fui
mais uma vez aclamado como “Baden Meister” (campeão). Expliquei então aos
rapazes que tinha trazido à chuva comigo de propósito, para melhor poder julgar
as suas qualidades, uma vez que esperava que eles não fossem Escoteiros só de
bom tempo. AMBIÇÃO A ambição de fazer o bem é a única que vale.
O acampamento é a grande atração que chama o
rapaz para o Escotismo e oferece o melhor ensejo para ensiná-lo a confiar em si
próprio e a desenvolver o espírito de iniciativa, além de lhe dar saúde e
robustez. Um acampamento é um lugar espaçoso, mas não há nele lugar para um
indivíduo só: aquele que não quer desempenhar a parte que lhe cabe-nos muitos
trabalhos que sempre há para fazer. Não há lugar para o fingido nem para o
resmungão. O Pata-Tenra queixa-se da “dura vida do acampamento”, mas o Escoteiro que conhece as regras do jogo bem
sabe que a vida em campo está longe de ser dura.
O
objetivo de um acampamento é (a) ir ao encontro do desejo que o rapaz tem de
gozar a vida ao ar livre dos Escoteiros, e (b) pô-lo completamente nas mãos do
seu Chefe durante um período definido, para formação individual do caráter e do
espírito de iniciativa, e desenvolvimento físico e moral.
Todo
o Escoteiro sabe que quando levanta o acampamento só há duas coisas que deve
deixar atrás de si: 1. Nada; 2. Os seus agradecimentos - a Deus pelos bons
momentos que viveu, e ao proprietário do terreno por tê-lo deixado fazer uso
dele. Se o acampamento for utilizado como um mero pretexto para a inação e o
amolecimento, quase que mais vale não acampar. Só quando estamos acampados é
que podemos verdadeiramente aprender a estudar a Natureza como deve ser, pois é
ali que nos encontramos frente a frente com a Natureza em todas as horas do dia
ou da noite.
O
acampamento ideal, para mim, é aquele em que todos andam alegres e ocupados, em
que as Patrulhas se mantêm intactas em todas as circunstâncias, e todos os
Guias de Patrulha e todos os Escoteiros sentem verdadeiro orgulho no seu
acampamento e nas suas construções. Sempre que acampares ou partires em
expedição, lembra-te que muito se espera dos Escoteiros. Precisamos manter o bom
nome do Movimento.
O
acampamento, essencial para os Escoteiros, não o é para os Lobinhos, e com
estes é de longe melhor nem sequer tentar acampar, a menos que se possa contar
com todos os meios e se tenha a experiência necessária. Um bom acampamento pode
ter efeitos benéficos e duradouros sobre os Lobinhos. Um acampamento mau será
uma vergonha permanente para o Chefe, a Alcateia, e provavelmente para todo o
Movimento. Mais vale educar os rapazes por métodos talvez menos atraentes e
mais lentos do que de correr este risco.
O
acampamento é a melhor oportunidade para estudar os Lobinhos, pois em poucos
dias aprendereis mais a seu respeito do que em muitos meses de reuniões
normais, e podereis exercer sobre eles, no domínio do caráter, do asseio e da
saúde, uma influência tal que crie neles hábitos duradouros. Na vida de
acampamento aprendemos a passar sem uma porção de coisas que achamos
necessárias quando vivemos em casas, e descobrimos que conseguimos fazer
sozinhos muitas coisa que pensávamos não ser capazes de fazer.
É
difícil haver um único artigo da Lei do Escoteiro que não seja cumprido melhor,
depois de teres acampado e de o teres posto em prática no acampamento. Não
deixemos que os nossos acampamentos se convertam nos piqueniques aborrecidos e
indolentes que seriam se organizados ao estilo militar. O que nós queremos é a
arte da exploração e da vida na natureza, e é isso que os rapazes mais desejam.
Que o tenham, e em força. Enquanto os Grupos e as Patrulhas não estiverem
acostumados a acampar, ainda não começaram a ser Escoteiros.
O
acampamento é o jardim celestial do rapaz, e a oportunidade do Chefe. E, além
disso, é Escotismo. Há um aspecto que eu gostaria de insistir junto de todos
aqueles que assumem a responsabilidade de um acampamento; esse aspecto tem a
ver com a minha velha divisa “vistas largas”, e consiste em compreender que,
por muito elevado que seja o grau de perfeição a que possa ser levado, o
campismo não é o fim último do Escotismo. É apenas uma das etapas - embora a
mais cheia de potencialidades - em direção ao nosso objetivo de formar cidadãos
felizes, saudáveis e úteis.
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