Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

UM CONTO DE FERNANDO SABINO POR CLÉCIO MAG




Um conto de Fernando Sabino por Clécio Mag

Preciso reviver, eu bem sei,
mesmo que só na lembrança,
voltar à minha antiga casa,
rever a minha infância
e todos os momentos felizes que lá passei.

“Uma vez escoteiro, sempre escoteiro” Era o lema de meu tempo. Pois outro dia vinha eu distraído pela rua pitando o meu cigarrinho, quando dou com um bando de escoteiros surgindo de uma esquina. São uns cinco ou seis miúdos, como dizia o português, e vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando, mas não são fidalgos que voltam da caçada, como o célebre soneto: em verdade vêm na maior algazarra e por pouco não me atropelam.


Tento atrapalhadamente me lembrar de alguma coisa que revele minha autoridade, mostrar-lhes que me devem continência. Afinal fui seis anos escoteiro, primeira classe, oito especialidades, monitor da Patrulha Cão, Guia do Primeiro Grupo, que é que há?


- Sempre Alerta! – exclamo com energia, procurando esconder o cigarro.


Ele se detém, espantados, como se estivessem diante de um maluco. Dirijo-me ao mais próximo:


- De que patrulha você é? 

Trata-se de um pirralho de seus 10 anos, se tanto, carinha esperta que positivamente não é de quem pratica uma boa ação todos os dias, mas que todos os dias mata um passarinho Prega uma mentira e fala um nome feio. Nenhum deles jamais deve ter ajudado uma velha a atravessar a rua ou tirado uma casca de banana da calçada para poder desfazer o nó na ponta do lenço, símbolo da boa ação cotidiana, como fazíamos no nosso tempo.
- Patrulha? E ele franze a carinha, prendendo o riso.


Não tem dúvida, devo ter cometido alguma impropriedade. No entanto, no nosso tempo...

- Qual seu totem? – insisto, sorrindo: “O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades”. Hei de vencer. Ele mal sabe com quem esta falando.


- Totem? Volta o escoteirinho com mais estranheza ainda, e em pouco não só ele, mas também os companheiros já estão francamente rindo de mim.


Olho-o com firmeza, atirando longe o cigarro e perfilando-me: a esta altura já não sou apenas o monitor da Patrulha Cão, mas o Grande Cão, o Tapir de Prata, o próprio "Velho" Logo, o Lord Baden Powell, o Chefe Supremo?


- Sim, totem!! Você não sabe o que é totem?

- Você não pertence a uma patrulha, não é escoteiro?
- Não, sou Lobinho... – responde ele, afinal intimidado.
- Lobinho? Pois então “o melhor possível”
- “O melhor possível”- Retruca ele com energia, juntando as perninhas.


Fazemos a continência dos lobinhos – dois dedos abertos em V, - dou meia volta e me afasto. Ele tem razão, os lobinhos não constituem patrulhas, mas matilha. Como é que eu, um Seis Estrelas (?), pude cometer um engano desses? Também comecei como lobinho e só não cheguei a Pioneiro porque não podia mais suportar a idéia de ser um homem de quinze anos e ainda de calças curtas.

E finalmente chegara a hora de começar a fumar, a beber, a dizer palavrões para enfrentar a vida.

A lembrança da infância é o único sonho real que nos resta na fase madura da vida, os demais são meras utopias.

2 comentários:

  1. Obrigado por postar a frase de minha autoria. Já participei com gosto do escotismo e minha mulher foi chefe escoteiro. Sucesso ao blog! IGdeOL - Ivo Gomes de Oliveira.

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  2. Sempre alerta
    Sempre escoteiro
    Patrulha do Lobo
    Colegio Estadual Central/ BH,MG

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