Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Operação Morcego Negro



Operação Morcego Negro

Para mim Operação “sujar as calças”. Risos. Bem feito. Quem mandou inventar? Claro, o Romildo era assim. Um sonhador e um aventureiro. Aprontava poucas e boas quando Monitor da Patrulha Morcego na tropa de escoteiros. Todos sabiam de sua lealdade, de sua competência e mesmo não tendo a aparência de um menino forte e alto todos os respeitavam. Os chefes gostavam dele. Esforçado, conseguiu a Segunda Classe e a Primeira Classe também. Por ser difícil onde moravam e poucos sabiam da Região Escoteira ninguém se lembrou de ver a possibilidade de um processo para a ortoga do Escoteiro da Pátria. E olhe que ele merecia.
Na Patrulha Escoteira dentre outras aventuras que criou, a mais célebre foi a de que deviam construir uma balsa para que o pessoal do outro lado do rio não precisasse dar uma volta de mais de doze quilômetros para vir à cidade. – O "Chefe" Escoteiro falou para ele - Romildo, balsa não é como você pensa. Não é fácil. Ela é feita de toras, muitas taboas, pregos, arame e depois de pronta uma corda maior que o rio para ir e voltar. Sem contar um cabo de aço que vai ser muito difícil conseguir por aqui.  
Mas quem disse que Romildo desistiu? Chamou os monitores e expos seus planos. Todas as tardes iriam até o Curtume do “Seu” Tomas e ele próprio já tinha cedido varias toras que estavam na porta do curtume. O trabalho começou. Escoteiros não desistem nunca. Uma parafernália de serrotes, um traçador, martelos, plainas, machado do lenhador. Formão, trados, um milhão de coisas. Até uma bancada de carpinteiro ele conseguiu. Onde ele arrumou tudo isto eu não sei. Não vou entrar em detalhes, mas eles construíram a tal barca. Gastaram quatro meses. Lourival o ex-Escoteiro dono da loja de ferragens doou as cordas. Mas o cabo de aço não. Resolveram usar outra corda. Fazer um tripé de cada lado que pudesse suportar o peso foi outra aventura. E finalmente, usando um sisal amarrado à cintura, Romildo atravessou o rio a nado e depois puxou as cordas.
Não vão acreditar como fizeram para esticar as cordas. Eles sabiam como usar a corda tipo “roldana”, pois conseguir pelo menos duas delas seriam muito difícil. Com um carro de boi emprestado da fazenda do Zé Pacheco eles esticaram as cordas. Depois fizeram uma experiência com a balsa. Não foi fácil leva-la pelo rio de um lado a outro. Pretendiam chamar o prefeito para a inauguração. E não é que ele foi? A primeira vez até o outro lado do rio foram oito. Divertido. Na volta a balsa encheu. Mesmo Romildo dizendo que não ia aguentar ninguém saiu. Dito e feito, a corda arrebentou e a balsa correu rio abaixo com gente pulando no rio feito jacaré. Graças a Deus que sabiam nadar. O prefeito de terno e gravata chingou todo mundo.
Romildo levou um “esfregão” do "Chefe" Escoteiro e da Corte de Honra. Merecia é claro. Foram muitas a que o Romildo aprontou. Passou para os seniores e logo convenceu a Patrulha Estrela Cadente a escalar o Pico da Mortalha, que ficava em frente à cidade. – Impossível disseram todos. Gente que entende de escaladas não conseguiu. Romildo convenceu que deviam ir pelo menos na metade. Só duzentos metros. Lá tinha uma saliência onde cabia todos. Depois era só contar na cidade e ficariam como os primeiros a escalar o Pico da Mortalha.
Deram o nome de Operação Morcego Negro. Sempre era assim. Ele gostava de inventar nomes pomposos.  Partiram em sábado pela manhã. Uma volta de doze quilômetros. O plano era subir logo, chegar até a saliência (mais de trezentos metros de altura) e descer chegando ao pé da pedra no máximo às cinco da tarde. Local bonito, aguada boa, poderiam acampar ali até o dia seguinte quando retornariam. Começaram a subida. Cantando. Rindo. Duas horas depois não havia mais canção e nem risadas. O sol batia nas costas e na encosta elevando a temperatura a mais de quarenta graus.
Pensaram em voltar, mas a saliência estava a poucos metros. Mais uma hora e chegaram. Riram. Apertados, mesmo assim houve abraços. Sentaram e lancharam. Olharam a cidade. Linda. O sol já ia se por. O vermelho do sol batendo nas aguas do Rio Saltimbanco era um espetáculo incrível. Melhor descer disse Romildo. Dizem que descer todo santo ajuda. Engano. Menos de dois metros e voltaram. Não dava. O medo de cair e não ter onde se firmar era por todos possuídos. A noite chegou escura como bréu. Melhor ficar aqui e esperar o amanhecer disse Nelsinho. Que seja. Dormir como? Um frio de rachar. Saliência pequena qualquer descuido e “pimba” iriam parar lá em baixo. Amarraram-se uns nos outros.
Lá em baixo a cidade brilhante, luzes, automóveis como se fossem formigas. O dia amanheceu. Ainda bem que eram escoteiros seniores. Acostumados. Agora era descer. Descer? Nem sabiam como subiram até ali. Alguns choraram outros ficaram pensando que seriam ridicularizados por todos na cidade. E a tropa Sênior? O que diriam? – Aí Mané! Vai no papo do Romildo e voces dançam! Sorte de todos. Alguém no topo os viu. Muitos vieram. Cordas. La pelas onze da noite o ultimo foi içado.
Mas ninguém nunca esqueceu o Romildo. Cresceu se formou engenheiro. Passou a construir pontes. Prédios de alturas mil. Ainda faz suas aventuras. Convidou diversos chefes escoteiros amigos para formar uma Patrulha. Sem grupo é claro. Só eles. De uniforme porque não? E assim nasceu a Patrulha Impisa. Não sei se conhecem, mas olhe, já foram até explorar o Pico da Neblina no alto Amazonas. Fazem coisas de estarrecer. Eu mesmo não sei se iria participar de uma Patrulha assim. Hoje, passado muitos anos, a Operação Morcego Negro é contada em prosa, se tornou um épico e foi anotada no livro da Patrulha. Uma foto da Patrulha Estrela Cadente ainda está lá na sede. Muitos dos meninos novatos ficam horas e horas olhando e sonhando em ser um deles!

E como dizem por aí, qualquer semelhança é mera coincidência! Risos

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