Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

domingo, 6 de maio de 2012

Uma Jornada de Primeira Classe



Sexto fascículo

Uma Jornada de Primeira Classe

            - “Avistamos o coqueiro ao longe. Não havia a menor dúvida que era o ponto marcado no pequeno mapa que nos foi entregue pelo Chefe da tropa. Tínhamos percorrido pouco mais de 10 km. Nosso percurso estava correto e nosso Passo Duplo tinha dado a distancia exata com poucos erros na metragem. A satisfação aflorou em nossa mente e um pequeno sorriso ajudou a saborear a jornada naquela tarde seca, mas gostosa para uma aventura de Primeira Classe”.
            Quem nos contava esta “aventura” eram dois escoteiros da Patrulha Javali, que tinham causado um grande reboliço, devido ter extrapolado em mais de oito horas o término da jornada, conforme determinações do Comissário Distrital. Haviam-se passado duas semanas do evento, mas eles diziam mesmo assim que foi o maior desafio que até então tinham enfrentado.
            Ali sentado, junto a mais quatro jovens, eu o único adulto me divertia com a maneira simples e simpática da história como era contado pôr eles. Eu me satisfazia em estar junto aos rapazes e a simplicidade com que contam suas grandes aventuras. Isto sempre me emocionou. Acredito que sou bom ouvinte. Ouvir sempre vale a pena. Você fica conhecendo melhor os acontecimentos sem perguntas inúteis que só atrapalham o narrador.
- Nosso horário - continuaram - estava perfeito. Fizemos uma pequena parada para uma nova tomada de rumo, e a bússola do meu companheiro, uma velha “Silva” de guerra, marcava sem erro nosso azimute, ponto a ponto. Um pequeno desenho no Percurso de Gilwell, e fomos em frente. Nosso Passo Duplo, acreditávamos, era melhor que o marcador de distância. Chegamos a uma bifurcação, e foi aí que a “Vaca foi para o brejo”. Poderia jurar que a posição da bússola estava correta. O coqueiro ao longe me dava esta certeza e meu companheiro também concordava. Pelas instruções, encontraríamos próximo um sitio um pouco afastado da estrada carroçável, onde seria o nosso pernoite. Nossas instruções eram explicitas: - consultar o mapa sempre! - Não o fizemos.
            Avistamos o que devia ser o sítio marcado, onde o Chefe já havia contatado antes o proprietário e tínhamos autorização do pernoite. Procuramos o mesmo e este nos recebeu educadamente, se prontificando a ceder instalações ou o terreno, mas notamos que parecia surpreso com a nossa chegada. - Montamos um pouco abaixo de sua residência nossa barraca e após um banho em um córrego próximo, aproveitamos o lusco fusco da tarde para dar uma melhorada em nosso relatório, no percurso e o no croqui. A noite chegou, fizemos uma sopa acompanhada de pães. Após aquela suculenta refeição, limpamos tudo, fizemos um pequeno fogo, conversamos e fizemos nossa oração e fomos dormir bem cedo.
            - O dia amanheceu com um sol radiante. Estávamos confiantes que tudo caminhava conforme o planejado. Após o desmonte e limpeza do terreno, agradecemos ao proprietário e fomos em frente. Encontramos o coqueiro e a certeza era tanta, que nem consultamos o velho mapa, pois pensamos não haver erro de direção. Andamos uns 4 km, e aí foi que tropeçamos em nossa jornada. A estrada havia acabado. Consultamos o mapa e nada demonstrava onde estávamos. Nosso horário tinha avançado e ficamos preocupados, mas nosso Adestramento não deixava margem de dúvida: - Quando se sentirem perdido, voltem ao ponto anterior.
            - Chegamos ao sítio onde havíamos pernoitado pôr volta das 12 horas. Pela programação, deveríamos encontrar o Comissário e nosso Chefe as 16 h num ponto determinado do mapa. Nosso erro agora ficou claro. Havia dois pés de coqueiros. Fomos até o segundo e avistamos um novo sítio. Este é que seria o local do pernoite.
            - O mapa agora estava claro. Infelizmente não o consultamos acreditando piamente na nossa intuição. Avistamos uma senhora que nos perguntou se estávamos atrasados, pois ela e o marido nos esperavam no dia anterior. Explicamos o que acontecera e agradecemos. Voltamos ao ponto de partida e aí sim, fizemos uma nova orientação pelo mapa. - Nosso relatório era sucinto, mas real. Nada omitimos e só conseguimos chegar ao local combinado pôr volta das oito horas da noite. Encontramos o Comissário e mais alguns chefes mais do que preocupados. Eles tinham pedido ajuda na vizinhança para uma busca completa e até aquele momento não tinham nenhuma pista. Nossa chegada foi um alvoroço.

            - Estamos aguardando a solução da nossa jornada. O Comissário alegou que não cumprimos todas às etapas.  Entregamos nosso relatório, o croqui, o percurso de Gilwell e um trabalho pedido sobre a devastação ambiente no nosso percurso.
            - Agora vejam vocês. Preparamos-nos como nunca. Fizemos tudo o que foi pedido, Infelizmente erramos o caminho, mas conseguimos consertar. Para nós valeu. Foi uma das atividades mais gostosas que fizemos. Se não conseguirmos a Primeira Classe, não sei não. Eu ficarei muito chateado. Compreendi o que ele estava dizendo. Às normas são claras quanto à jornada. Conhecia o Comissário e ele era novo no cargo e não tinha experiência anterior. Claro que não iria falar isso para eles, mas já tinha a certeza que não seriam aprovados. Estaria certo?

            - Conhecendo os dois como os conheço eu daria sem pestanejar a jornada como aprovada. Para eles foi mais que uma jornada. Uma verdadeira aventura ao desconhecido. Alguns dias após, procurei o Chefe da Tropa, pois minha curiosidade estava aguçada quanto à jornada dos jovens. Ele comentou sinceramente comigo que eles não seriam aprovados e que não podia fazer nada. - Agora veja você - falou - preparei pessoalmente a cada um. Ficaram com o Monitor dias e semanas aprendendo leitura de mapas, a fazer croquis, relatórios de jornada e dominavam completamente o assunto. Estavam super animados, pois eram bons escoteiros e dentro da Patrulha o Monitor tinha enorme consideração com ambos.
Vai ser difícil dizer a eles que terão que repetir. Claro, são bons escoteiros e aceitarão, mas perderemos com isto um bom tempo no Adestramento de ambos. Algumas semanas depois soube que eles repetiram a prova. Desta vez se saíram bem, pois fizeram tudo direito conforme estava escrito.  Mas na segunda vez, não houve aquela “pitada” de aventura, tão desejada e ela sim, é que traz o crescimento e mostra do que o Escotismo é capaz.
            Eu sempre acreditei que vale mais uma aventura marcante do que uma prova sem surpresas. Uma jornada só teria valor se tivesse algum a destacar. Sempre nos lembramos das atividades que tiveram uma “pitada” diferente de uma aventura simples. Uma chuva torrencial que quase alagou o campo de Patrulha, um susto qualquer a noite com um animal da floresta, encontrar uma grande cobra no caminho, saber enfrentar os bois que nos olham de esguelha enfim, uma infinidade de coisas que sempre ficam marcadas para sempre em nossa memória. 

E VOCÊ, APESAR DE QUE ESTA PROVA NÃO EXISTE MAIS, DARIA A JORNADA COMO REALIZADA?                                                                               

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