Uma linda historia escoteira

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Era uma vez...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

FOGO DE CONSELHO



FOGO DE CONSELHO

O dedo em riste do "Velho" Escoteiro não era em tom de desaforo, mas sim de uma maneira peculiar quando queria discordar de algum tema em discussão. - Eu sei que o mundo é outro e já nos aproximamos de um novo século - dizia o "Velho" Escoteiro. Mas isto não significa que os jovens também querem mudar. Eles estão aceitando o que lhes oferecem, e na falta de algum melhor, aceitam qualquer coisa. Afinal o outro lado não lhes foi oferecido.

 Não é bem assim "Velho" Escoteiro. - Quem falava era um membro da Equipe de Formação, um dos poucos a visitar o "Velho" Escoteiro esporadicamente. Quando aparecia, já sabia das opiniões e sempre sobrava para ele às mudanças porque passava o Movimento Escoteiro. Ele era um daqueles abnegados, Cirurgião Dentista, que largava seu Consultório para ajudar e ao mesmo tempo era um dos poucos que se animava a falar com o "Velho" Escoteiro. Muitos o achavam ultrapassado e “chato”.

- Tenho participado de alguns Cursos Técnicos de Fogo de Conselho, e você sabe da minha experiência do passado. - Conheço como você como surgiu e como BP deu significado a esta atividade noturna. Lembro que Baden-Powell em suas andanças observou que os nativos da Ásia, da África e da América e até os colonizadores brancos, reuniam-se, à noite, em torno do fogo que com sua luz e calor, espantavam a treva, o frio e os animais selvagens. Era o momento em que se encontravam para conversar, cantar, contar histórias, realizar cerimônias religiosas, planejar caçadas, guerra ou a paz.
            - Sei que o Fogo de Conselho, - Continuou - Como muitas outras atividades que caracterizam a mística e a ambientação do Programa de Jovens, tem sua origem nas observações do Fundador sobre os costumes, valores e tradições culturais dos muitos povos que conheceu durante suas viagens.

Era uma discussão das boas. Não fazia nem dois meses que havia participado do Curso Técnico de Fogo de Conselho e minha pesquisa tinha dado uma diretriz, que não caminhava em direção a usual, ou seja, a rotina do que hoje todos denominam Fogo de Conselho.

- O "Velho" Escoteiro riu e como sempre deu sua “pitaca”. Olhe se você der minhoca aos jovens para pescar lambaris em uma lagoa infestada de jacarés eles vão ficar o dia inteiro e não vão reclamar. Estão acreditando que ali tem lambaris, pois o Chefe “falou”. - disse o "Velho” Escoteiro. Aprenderam assim. Mas será que isto vai ajudar na formação? - Tenho ouvido de muitos a necessidade de mudança, mas esta não pode ser feita desta maneira. O Fogo de Conselho faz parte da mística, da tradição. Pode até não parecer, mas é muito importante na formação do jovem.

- Continuava o "Velho" Escoteiro - O Fogo de Conselho é uma extensão da atividade em que o jovem participou nos dias de acampamento. Lembro que fui convidado diversas vezes para montar cursos de Fogo de Conselho. Nunca acreditei nisso. O que hoje querem é um espetáculo teatral. Já criaram temas, normas, nomenclaturas que dou risadas quando vejo. - Ele (o Fogo de Conselho) tem que ser criativo e para isto não pode ser para uns poucos que se sobressaem na arte de representar ou então para o chefe que é mestre na área de Animador de Fogo de Conselho.

- A ideia de BP não foi essa. Você já disse que conhece como eu como surgiu e o que vemos foi criado depois. Hoje alguém com alguma criatividade vão à frente com um programa escrito, quem sabe uma bela manta cheia de distintivos, (nada contra) e pobre dos participantes. Vão assistirem réplicas de representações antigas ou vistas em alguns programas cômicos de TV. Canção, a patrulha tal para a palma, ou canção ou apresentação. Depois outra Patrulha e assim vai. E o tal Animador que sempre é um adulto a se exibir e nem sabe se agrada a não ser pelos aplausos e sorrisos.

É isso o Fogo de Conselho? - Continuava o "Velho" - Acredito que existe a necessidade deste espetáculo teatral, desde que seja bem montado e destinado para pais e visitantes em situações “esporádicas”. Repito ocasiões especiais.  A pirotecnia ali até que pode valer à pena, mas esta é a única exceção que admito. O fogo é para os jovens, dirigido pelos jovens e lembrado no futuro pelos jovens.

- O melhor é aquele fogo da tropa, que ela decidiu o que, onde, como e quando. Que ela (a tropa) sabe o que vai fazer. Que pode ser um simples bate papo, mas o fogo, este sim está ali em volta, e todos sentem o mesmo calor e participam em conjunto espontaneamente. Aceso com um ou dois palitos, onde alguém até pode fazer sua promessa, e como no passado receber seu nome de guerra saltando a fogueira de olhos vendados. (pena isso não existe mais)

Acredito que até alguns ingredientes são bem vindos e devemos até motivar os nossos jovens com instrumentos musicais. É um fogo dos jovens para os jovens. Diga-me, no passado quando as tribos indígenas se reunião em volta do fogo, tudo estava escrito e detalhado o que cada um ia fazer? Tinha normas? Horários para cada um se apresentar? O "Velho" Escoteiro deu uma pausa.

O Chefe DCIM aprovou a deixa para mudar de assunto. Conversaram mais algumas amabilidades e logo apareceu a Vovó com seu café fumegante e seus biscoitos maravilhosos. Fiquei analisando a conversa dos dois e fico com o "Velho” Escoteiro. O Fogo de Conselho tem tradições que foram criadas e estas não podem ser alteradas a bel prazer.

É delicioso fazer uma fogueira simples, alimentá-la à medida que se torna necessário, sentir o calor dos amigos, um bate papo legal, uma canção espontânea, uma imitação ou uma historia de improviso, um fato pitoresco, um bom café ou chá. Umas batatas na brasa. Boas risadas das dificuldades ou aventuras do dia ou dos tempos no Escotismo. E claro, sempre acompanhada com as tradições, a invocação dos ventos, a canção do fogo, o quebra coco, uma bela historia contada e que marcará para sempre, a Canção da Despedida, a oração. E depois, e depois... Deitar na relva e ver as estrelas! Isso sim, para mim é o verdadeiro Fogo de Conselho.

Os jovens, os chefes, todos eles ali são amigos. Não há ordem de sequência e nem repetitividade. Este sim seria o meu fogo ideal. Já participei de dezenas, centenas talvez, mas não tive o prazer de assistir e participar de um desse. Felizes são os jovens. Pena que os adultos não pensem assim. Sempre decidindo o que é bom para eles. Não consultam e ainda dizem que fazem tudo para ajudar. É prefiro não comentar sobre isso. Já comentei muito.

- Senti o "Velho" Escoteiro bater a mão no meu ombro, me dar um olhar enigmático, sorrir e dizer - Também concordo com você. Participei de mais de três centenas de Fogo de Conselho assim. Belos tempos meu amigo, belos tempos.

Deus do céu! - pensei. O "Velho" Escoteiro agora também lê pensamentos?

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