Os seniores, os chefes, as autoridades, a lambança e o Tiro de Guerra.
Duas lambanças, ou melhor, lembranças. Tem mais. Mas hoje só essas duas. Um dia quem sabe conto outras. E acreditem se quiser. Risos.
Todos riram. Os ladrões de goiabas foram para o hotel. Outros para suas casas. O Conselho continuou no domingo. Antes do encerramento o proprietário do lote onde estavam às goiabeiras veio pedir desculpas. – Olhem, falou, quando tudo terminar estão convidados a apanhar quantas goiabas quiserem, claro desta vez pela porta da frente!
Segunda – 1957. Patrulha Sênior, éramos seis. Um acampamento de três dias. Sexta, sábado e domingo. Levamos tudo em nossas bicicletas. De manhã observamos que um pelotão do Tiro de Guerra (unidade do exército que existia e acho que ainda existe nas pequenas cidades) estava montando barracas a uns quinhentos metros onde estávamos. (bem próximo ao Rio Doce). O Arlindo achou à tarde na beira do rio, uma enorme (grande mesmo) abobora amarela. Precisou da ajuda de outros dois para levá-la até ao acampamento.
Não sei quem deu a ideia, mas o Arlindo ficou mais de duas horas limpando por dentro após fazer uma tampa e depois na frente e atrás cortou como se fosse uma gigantesca feiticeira de duas faces, de dentes enormes e olhos arregalados. Ele mesmo preparou tudo. Quatro velas bem postas, muitas folhas verdes em volta e com cuidado eu mesmo nadando a levei até o meio do rio, com as velas acesas e a fumaça saindo por todos os lados.
Foi à conta, quando a abóbora passou pela área do Tiro de Guerra (por volta das onze e meia da noite) o sentinela levou o maior susto. Passou a atirar a torto e a direito e gritava – O capeta! O demônio! O diabo! Socorro! Vieram outros. Armados (Fuzil Mauzer, modelo 1908) e também começaram a atirar. Soldados correndo para todo o lado. O tiroteio só parou quando o sargento Martinho mirou e acertou uma bala bem no centro da abobora que se despedaçou.
No sábado seguinte, estávamos em reunião quando o Capitão Leopoldo do Tiro de Guerra pediu ao chefe para falar conosco. Um medo danado. Formados em linha, em posição de sentido, os seis bravos escoteiros seniores tremiam como varas verdes. O capitão fez uma pequena inspeção nos uniformes, nos olhou, pensou e falou:
- Então são vocês, seis merdinhas escoteiros que botaram o Exército Brasileiro para correr? E começou a rir desbragadamente. E não parou de rir até que toda a Patrulha parou de tremer e a rir também. A cidade comentou por muitos e muitos anos.
E como digo no final das minhas historias,
E quem quiser que conte outra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário